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Postado por NaNa Caê segunda-feira, 17 de dezembro de 2012 13:23:00

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O que me frustra nem é mais a minha vida
A de todas as outras pessoas que observo que não consigo suportar

É o fim do mundo cara, é o fim do mundo interno de cada um
Acontece que tristeza também mata, mas esqueceram de avisar

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[Ouvindo: Beach House - Saltwater]

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Cálculo Complexo

Postado por NaNa Caê domingo, 11 de novembro de 2012 23:50:00

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O coração que parte hoje paradoxalmente não me deixa ao meio
Dobra o amor que eu antes não sabia sentir

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[Ouvindo: Alt J - Breezeblocks]

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A Feia Poesia do Fim

Postado por NaNa Caê 23:44:00

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Eu só queria saber, ter uma imagem, uma foto qualquer do período em que começamos a dar errado. Lembro dos quartos sujos, dos azuis, dos parques e cidades distantes. Lembro do orgulho de ter algum sentimento. Eu sei definir maus momentos, irritantes gestos, mas não o primeiro instante em que iniciou esse nosso azar. Deixa eu colocar assim, como uma desgraça cósmica que pairou sobre nós. Deixa eu tirar a minha culpa e a sua desse jogo, zerar o placar e trocar nós, sedentários, por atletas de verdade.  Deixa eu afastar os corpos logo um do outro que talvez seja melhor. Eu não tenho que pedir desculpas pela minha ou a sua loucura, eu não tenho que pedir pra que a gente vá tentando se acertar em meio a tantos erros de cálculo óbvios e tiros no coração de raspão. Opostos, negativo e positivo, extremos distintos, juntos nunca dão ‘mais’. É sempre um ‘menos’ preciso que a gente vai encontrar no caminho, é sempre um ‘menos’ frio que vai bater na nossa cara não importando pro lado que a gente vire. 

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[Ouvindo: Radiohead - Black Star] 

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Pagando Pra Ver

Postado por NaNa Caê 23:25:00

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Não compreendo desaforos
Cobranças daquilo que nem você mesmo sabe o que quer
Terminar a ligação com tons mais baixos que bossa-nova-da-depressão 
Não é  novidade para nós

Quero ver é a gente nessa vida se dando bem
Quero ver você acabando comigo
Eu com você 
E ainda existir olho no olho
Corpo quente na mão

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[Ouvindo: Radiohead - How to Disappear Completely] 

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Acorda pro conta-gotas

Postado por NaNa Caê quarta-feira, 31 de outubro de 2012 23:54:00

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É tanto amor que não sei dosar
Fecho as mãos
Braços
E olhos
Sonho com o que está bem ao meu lado

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[Ouvindo: Sóley - Bad Dream]

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Não puxe uma cadeira

Postado por NaNa Caê 23:23:00

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Meu recanto é um canto que não sabe cantar sobre o amor
Aqui só tem espaço vago e frio
Já guardado
E escrito
O nome da solidão 

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[Ouvindo: Sóley - I'll Drown]

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Depois a gente conversa

Postado por NaNa Caê 23:19:00

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Quando eu queria amor
Você não pedia nem sexo
Quando eu queria sexo
Você dizia ser paixão
Agora que não busco nada
É amizade descabida
Descabelada
E desnutrida
Confusa pela ausência de razão 

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[Ouvindo: La Dispute - Such Small Hands]

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Receita do Dia

Postado por NaNa Caê quarta-feira, 24 de outubro de 2012 00:20:00

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Só se é feliz quando o coração te move 
Enxovalha
Dilata
Dá alento pra prantear
E se requentar

Amor perfeito só se for doce
Daqueles de sobremesa mesmo
Feito com leite condensado
Gelatina
E choradeira de maracujá

Já solidão é isso:
Saber onde devo ir
Mas não entender o porquê
De levar mais alguém além de mim

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[Ouvindo: Cambriana - Invicto]

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Eusocialidade

Postado por NaNa Caê sábado, 22 de setembro de 2012 07:51:00

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Nunca fui muito de puxar angustia, mas agora ela me ergue e carrega meu corpo como pedaços de animais mortos nas costas de formigas fortes. Serei alimento e adubo puro, semente talvez.

Ela é pequena, quase anódina, mas me leva embora depois de horas de consternação. Me esconde em labirintos-valas abaixo dos seus pés.

Você absorta, me pisa sem saber ou ver, amortece seus passos nos meus olhos, impulsiona todo um caminho através dos meus pulmões.

Espero que da próxima eu não brote te amando novamente. 

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[Ouvindo: Radiohead -Jigsaw Falling Into Place]

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Um GPS pra esperança

Postado por NaNa Caê domingo, 5 de agosto de 2012 01:11:00

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Quando você perde a esperança, fica cansado e escora em um canto, ela larga os próprios ossos para trás, se torna só fibras, músculos e colágeno macio rosa que nem jujuba de dentadura. Esquece da rigidez, umedece com chá morno cada partezinha da casca e deixa um ardor modesto a amostra. Corre atrás de você assim mais ágil, te encontra, encara girando círculos pequenos pra te deixar tonto. Você fecha os olhos, canta sua música mais depreciativa, ela força suas pálpebras com faca, garfo e alguns goles de vinho. Sim, a esperança é bêbada, quando sensata e verdadeira ainda bastante torta. Se curva e encurva como plástico queimado, retorcido por calor. Se envergonha de ser o que é: nada além do que olha no espelho enquanto penteia seus longos curtos cabelos. Contraditória ou não, se acha poderosa, se julga imortal, no mínimo afirma em bares por aí que apesar de ser velha, é sempre a última a morrer. Pura coisa de gente chata enrustida a ser idosa. Tentar encharcá-la, torcer pra que esfrie, endureça e vá embora não adianta. Ela é tecnológica, não foi apenas o homem que evoluiu cheio de métricas e padrões binários complicados. A esperança já tem GPS, e está conectado a cada coração burro que é criado por aí. 

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[Ouvindo: Mallu Magalhães - Sambinha Bom]

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De madrugada até o amor parece um pornô

Postado por NaNa Caê segunda-feira, 23 de julho de 2012 04:37:00

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Você me espreme até que saia todo o caldo de palavras
Cheia de sede te obedeço
Deixo que escorram todas as vontades 
E saudade 
Por entre minhas pernas 

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[Ouvindo: Sarah Blasko - Bird On a Wire]

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Pastilhas

Postado por NaNa Caê quarta-feira, 30 de maio de 2012 10:05:00

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A cada mês escrevo mais o que me falta, começando por você
A cada bolo de folhas, faço como cobertura lágrimas e saudade
Da salgada comida destempero algumas partes com desculpas lavadas

Tenho apenas a geografia das cidades
Do seu corpo e do meu
Acautelados por outros entre nós
A geometria de ângulos que a gente tem que descobrir distâncias
Inconstâncias de rumores
E adivinhar qual o momento certo pra dizer o que é gostar

Fica calada
Enlevada no seu canto
Se encante com paredes
E pedras
Se amarfanhe nas quinas
Mas não com outras  pessoas que não sejam eu
Passatempos que não passam
Que um dia possam a vir ser amor

Fica do seu próprio lado
E não penda para o meu
O da sua mulher
Ou mãe

Se desprenda dessa culpa
Que eu já pisei quando te beijei
Porque hoje mesmo me contaram
Que ainda somos novos
E talvez seremos por um longo tempo
Caso eu não morra
Caso você deixe de se cegar
Caso a gente se case
Com pessoas diferentes
Que não sejam nós

Fique onde você bem quiser
E queira estar
Mas me passe as coordenadas
CEP e endereço
As passagens deixa que eu compro

Te levo uma rosa
Uma bala pra garganta
Uma prosa daquelas adiadas
Pra gente não ter o que fingir
Inventar desculpas pra se encarar

Fique assim do meu lado às vezes
Quando às vezes for sempre
Quando às vezes for pra nunca mais sumir

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[Ouvindo: Mumford & Sons - White Blank Page]
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Postado por NaNa Caê sábado, 12 de maio de 2012 23:59:00

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Como te esperar se você sempre me vem com farpas
Facas
E aguardos eternos?

Como te acompanhar
Se não sei onde estou
E como vou fazer pra aí chegar?

No silêncio das portas
Na dureza dos mapas
Enrijeço rabiscos que não nos une

Apenas liga
Chama
Sem sequer seu telefone tocar

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[Ouvindo: Landa Del Rey - Blue Jeans]

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O que nem pôde ser quisto

Postado por NaNa Caê 23:54:00

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Você jogou todas as fichas em uma única aposta anos atrás
Eu divido hoje as minhas em dois
Não sei de quem tiro uma ou duas pequenas peças vermelhas pra te dar
Não importa
Você só joga alto
Entrega tudo por inteiro mesmo com medo de não ganhar

Separo pilhas medianas para os jogadores que posso blefar
Não há mesa redonda com você
Muito menos peças
Todas caíram no chão quando deitamos sem querer no sofá

Conto cada cartilagem como se importasse o final
Confundo as somas só pra recomeçar
A cada tato calculo o que não posso ter

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[Ouvindo: Lana Del Rey - Blue Jeans]

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Postado por NaNa Caê 23:06:00

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Os livros estão me devorando
Como você fez em noites frias
Só para me mastigar
Causar atrito
Entre a minha pele
E seus dentes
A fim de me esquentar
E depois esquecer

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[Ouvindo: Landa Del Rey - Blue Jeans]

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Postado por NaNa Caê 23:04:00

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Desmaterializado como se palpável fosse
Deslavamos o rosto não mais sujo
Derretemos terra em barro sem luvas
Por um coração geometrizado
Quadrado forçado por adornos de metal
Fugindo de mãos intransigentes
Que se espremem em bolsos
Recheados de linguagem de tratados
Que nunca se cumprem

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[Ouvindo: Landa Del Rey - Blue Jeans]

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Postado por NaNa Caê 22:55:00

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Vitrificados dentes que te quebram
Ferindo ao mesmo tempo

Mãos de radar
Que tateiam estruturas fatais

De coração
Carne
E osso

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[Ouvindo: Landa Del Rey - Blue Jeans] 

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Postado por NaNa Caê sábado, 17 de março de 2012 16:33:00

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Me disseram que sou dura
E burra
Que eu deveria amolecer
Sair do ar condicionado
Tomar mais banho quente
Ver se derreto
Ou pelo menos forço meu coração
A amadurecer

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[Ouvindo: Feist/Jane Birkin - The Simple Story]

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Postado por NaNa Caê quinta-feira, 8 de março de 2012 20:08:00

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Fora das armações e ferraduras
Monte em seu próprio couro
Se faça tambor pro nosso amor musicar
Sob invenções de rimas e canções a galopes
Corro da saudade
Que ninguém reconhece
Escondo esse excesso que me ponho a gostar

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[Ouvindo: Bon Iver - Calgary]

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Postado por NaNa Caê 20:07:00

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Longe da voz que me amofina
Da monocromia dos gritos da vizinha
Da cirrose plástica dos cachorros
Rôo a vontade de te arrancar
De sonhos
Na rua
Na minha cama
Ou na sua
Crua
Sem paredes
Ou exércitos
Que possam me acordar

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[Ouvindo: Bon Iver - Simple Man]

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Postado por NaNa Caê 20:06:00

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Cuspa as vísceras
Fique só alma
Pele
E me dê seu coração

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[Ouvindo: Bon Iver – Lump Sum]

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Você Já Está Aqui Dentro

Postado por NaNa Caê domingo, 29 de janeiro de 2012 14:30:00

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Você não pode entrar nos meus textos, senão ficará também na minha vida, na minha cabeça enquanto espero o café ficar pronto, enquanto o espero acabar.

Você não pode entrar nos meus textos, senão ficará também nos meus pulmões, preencherá todos alvéolos e bronquíolos. Se sufocar por alguém que se atrasa meio segundo não rende compassados ritmos cardíacos.

Você não pode entrar nos meus textos, senão aparecerá em todos desejados ‘bom dia’, ‘tarde’, ‘noite’, pensamentos como ‘durma comigo’.

Você não pode entrar nos meus textos e destruir tudo o que já foi pensado, medido e escrito. Romantizar meu destino de achismos pessimistas não era bem o que eu esperava de você.

Você não pode entrar nos meus textos, na minha casa, calça, blusa ou em mim.

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[ouvindo: air - playground love]

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Vai(,) embora...

Postado por NaNa Caê sábado, 7 de janeiro de 2012 16:51:00

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Construí um bazar sentimental e me doei. Não de uma forma altruísta. Muitas vezes a gente encara as pessoas apenas pelo sexo, beleza, ou qualquer outro interesse. E então não existe mais coragem de voltar pro outro lado do trilho. Porque vai que o trem passa na hora, vai que o pé se prende, vai que. Nada vai acontecer, não iria. A todo tempo nos estranhamos, perdemos o que parecia essencial e em resquícios de malquerença não o é mais. Vai que eu vá embora, você se manteria na linha por mim? O seu calor não derreterá o aço entrelaçado, não é assim que se para alguém. E a cada decepção ou lapso de rancor me lembro mais da possibilidade de tudo acabar. Não posso te pagar pra viver, não posso te prostituir pra ser alguém melhor. Não posso te empurrar até que ande nos trilhos sem tropeçar e perder o passo. Não me importaria se perdesse também as pernas e não pudesse mais correr como se fosse a melhor. Você nunca chegou em primeiro, mas sempre caminha como vencedora.

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[Ouvindo: Vanguart - Engole]

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