Um GPS pra esperança

Postado por NaNa Caê domingo, 5 de agosto de 2012 01:11:00

3


.

Quando você perde a esperança, fica cansado e escora em um canto, ela larga os próprios ossos para trás, se torna só fibras, músculos e colágeno macio rosa que nem jujuba de dentadura. Esquece da rigidez, umedece com chá morno cada partezinha da casca e deixa um ardor modesto a amostra. Corre atrás de você assim mais ágil, te encontra, encara girando círculos pequenos pra te deixar tonto. Você fecha os olhos, canta sua música mais depreciativa, ela força suas pálpebras com faca, garfo e alguns goles de vinho. Sim, a esperança é bêbada, quando sensata e verdadeira ainda bastante torta. Se curva e encurva como plástico queimado, retorcido por calor. Se envergonha de ser o que é: nada além do que olha no espelho enquanto penteia seus longos curtos cabelos. Contraditória ou não, se acha poderosa, se julga imortal, no mínimo afirma em bares por aí que apesar de ser velha, é sempre a última a morrer. Pura coisa de gente chata enrustida a ser idosa. Tentar encharcá-la, torcer pra que esfrie, endureça e vá embora não adianta. Ela é tecnológica, não foi apenas o homem que evoluiu cheio de métricas e padrões binários complicados. A esperança já tem GPS, e está conectado a cada coração burro que é criado por aí. 

.

[Ouvindo: Mallu Magalhães - Sambinha Bom]

.