Parei de Fumar

Postado por NaNa Caê quinta-feira, 14 de abril de 2011 23:11:00

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Converso com você sempre durante períodos curtos, eu tento, procuro diversas formas de dar continuidade ao assunto, mas não consigo. Sabe aquela sem gracesa de encontrar um professor fora do ambiente que geralmente convive com ele, ou um colega de trabalho? Eu tenho isso, constantemente com você. O problema é que não sei de onde nos conhecemos, em qual tempo e local nos portamos normalmente.

Acredito que desde a sua barriga me sentia um pouco sufocada, tenho certa vontade de te perguntar se quando nasci o cordão umbilical estava em volta do meu pescoço, porque as vezes ainda tenho essa sensação, e com certeza deve, é necessário que haja uma explicação além das nossas diversidades de costumes e opções de vida.

Tenho ainda uma memória de quando fomos felizes juntas por alguns minutos, eu digo estando uma ao lado da outra. Corríamos em um parque no sul, durante aquelas nossas longas viagens de mais ou menos uma década atrás. Parecia-me bem divertido o momento, as folhas caindo e como sempre eu fingindo algo, colocava todas bem próximas da minha boca, a mandíbula subia e abaixava, simulando um mastigar engraçadinho, quase que falso delas.

Você ria, me jogava no chão, facilitava o andar da situação, encontrava mais folhas secas por ali, até que realmente comi uma de verdade, você irritada me deu um tapa na mão. Não doeu, eu sei, eu recordo bem aquele momento, mas parece que depois daquilo socos foram aparecendo, aumentando e as minhas mentiras também.

Eu me esforço diariamente pra achar alguma esperança, algum aniversário em que ganhei um presente que me deixou feliz além do interesse em si pelo objeto recebido, que nos empurrou para mais perto, acidentalmente nos fez encostar nossas mãos.

Porque as vezes tenho realmente algumas novidades boas pra te contar, porém como sempre no decorrer dos anos é colocado em primeiro plano apenas o seu dinheiro, ao lado da minha negação.

Então me calo.

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[ouvindo: metric - butcher]

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Sétimo Céu

Postado por NaNa Caê terça-feira, 12 de abril de 2011 11:01:00

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Digo que vou dormir, não consigo. Lembro da conversa de dois minutos atrás. Relembro o diálogo que quase criei em minha mente, que evitei falar. E então fico rindo, enquanto você pensa que diz tolices, engulo minhas babaquices de amor. Fico segurando, lutando pra não soltar nenhuma muito grande, exagerada. Desligo o telefone, corro pra primeira folha que encontro pela frente, vomito as palavras em cima do papel.

Fico por horas escrevendo, como se eu me perdesse em um dia muito longo com você, igual ás nossas constantes conversas que levam horas. Você sempre fica calada em minha cabeça, inverto os costumes, dessa vez sou eu quem falo, e digo verdades demais, esperanças demais, promessas as quais eu queria muito conseguir cumprir. E elas não acontecem por que simplesmente sequer existem, não saem da minha cabeça, no máximo escorrem da caneta.

Me desculpe, eu sei, não preciso que jogue isso um dia nas minhas costas, sim, nas costas, na cara não, não imagino você sendo assim tão bruta, e se fosse minutos depois me pediria perdão, ofereceria alguns beijos acompanhados talvez de chá, melhor se fosse capuccino, mas eu aceitaria toda feliz até água quente de você.

Tento compreender qual foi o momento em que eu disse pra você ir embora, porque me desculpe, mas não consigo lembrar disso. Só tenho em minha cabeça os poemas que te escrevi, não que você os tenha lido, não que fosse necessário mostrar algum, não, eles ficam mais sinceros apenas salvos no meu rascunho do celular.

Então torço para que me roubem o celular, que levem esses poemas e junto o seu número. Que essa dor passe para quem quiser se interessar em sofrer esses desajustes sentimentais. É, são desajustes, eu me forço a assumir isso, a aceitar, tenho que pensar que são problemas, que por me fazerem sentir insegura não são nada legais pra minha vida, pro meu desenvolvimento físico e mental.

Mas então me manda uma mensagem, bastante vaga, às vezes apenas dizendo que nela nem existe um conteúdo ao certo, algo a se dizer de profundo, apenas um pedido, que eu não me esqueça de você. Eu sorrio, te ligo, escrevo enquanto escuto sua voz, não que eu não preste atenção em nossas conversas, por favor, não pense assim, não comece com o seu pessimismo, fico escrevendo o que ainda não falo, por enquanto, amanhã talvez eu diga, quem sabe.

Tudo o que nego, não esqueço, está em meu caderno, o chamo de sétimo céu, idiota, infantil, entretanto você está por completo ali, não é um moleskine burguês como o seu, composto por metáforas sobre gatos em gavetas, mas lembra um tilibra, pequenininho com bastante amor, porém sem capa devo confessar.

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[ouvindo: cocorosie - lyla]

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