Ciclos em Aspiral

Postado por NaNa Caê quarta-feira, 16 de junho de 2010 11:17:00

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Você não acorda, mas levanta, coça a cabeça, coça a bunda, brinca com o cachorro, imita anjos, fuma, tosse, escarra os pulmões, beija na boca do seu amor, procura uma faca de mesa, na pia, no armário, no coração, não acha sequer caneta, encontra esmalte, pinta a parede com cor de isopor.

Você primeiro se come, depois come o outro, come a comida, vomita a invenção, eu como a mentira, mastigo com força, forço tudo, mas me entalo na hora da dor.

Você vive (?), mata, o tempo, quebra o relógio, a cabeça, o braço, atropeça, quebra a cara em cima do altar.

Você palita a alma duas vezes por semana em encontros espirituais.

Você lava as dúvidas duas vezes por semana em templos com janelas celestiais.

Nos outros três dias você não se controla, perde o controle, tem que levantar pra mudar de canal.

Você então pede livros, recebe classificados, classifica, mas não se rotula, passa páginas, risca páginas, engole todas as páginas, arranca a língua com o jornal.

Você tem prego nos dentes, cáries nas mãos, escova os cabelos, escova os pêlos dos joelhos enquanto imagina ciclos em aspiral.

Você enfia a cabeça no travesseiro, pensa no banheiro, mas corre para o forno, explode os neurônios, esquece de trocar antes a sacola do lixo do chão.

Você então suja o piso com seus miolos, a faxineira pisa na carniça, se irrita, enfia a vassoura na goela, a vizinha escuta, abre os olhos, senta na cama, se espreguiça, saca a arma, mata toda família, poupa o animal, volta a dormir, vira pro lado, mais tarde se levanta, mas não acorda, coça a cabeça, coça a bunda, brinca com o cachorro ...

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[Ouvindo: Babyshambles - Sedative]

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Comments (5)

Pode rir? hihihi (OBS: fantástico!)

Sabe o que lembrei? Quando eu descobri - pelos outros - que era feio. Eu tinha o que, uns 15 anos? Lembro-me de que não tinha nada a perder mesmo. As pessoas de minha classe apontavam pra mim ao longe e diziam que o feio estava chegando. Sofri bastante nesta época. Queria até ser invisível, sabe? Era o que eu mais queria: desaparecer.

Queria passar pelas pessoas e não ser notado. Porém, com o passar do tempo eu aprendi a me reconhecer feio e finalmente tive mais liberdade dentro de mim. Acho que as pessoas deveriam se inventar e escrever sobre isso. Enfim, hoje rio de mim por ser a piada, o chiste. Não tenho mais medo de ser tão patético, de ser ridículo.

Sei lá, li teu texto e lembrei dessa fase minha.

Muito fera esse post, meu favorito (mesmo nao tendo lido todo o blog).. mas acho que mesmo se eu ler ele vai continuar sendo meu favorito!

Coisa fofa!

Continua sendo meu favorito em 2015

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