Quase um tango

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Elas chegavam as 11
Da noite.
Mas ele iniciou seu ritual assim que acordou.

Pediu que lavasse bem a casa.
Que tudo ficasse arrumado
Não queria nada fora do lugar.

Almoçou em silêncio
Como em todos os outros dias em que elas não estavam ali
Mas dessa vez com um quê de
“corre tempo, corre logo”.

Voltou mais tarde do que o normal
A princípio achei que se tratava de má sorte
Trabalho após o expediente
Justamente no dia em que elas chegavam.

Mas logo vi que estava enganada

Nas mãos sacolas
Rosa vermelha
Ele havia parado para fazer compras

Surpresa para elas quando voltarem.


Durante o caminho ele fingia calma
Fingia paciência
Dirigia com movimentos lentos
Como se estivesse meio a um passeio

Mas eu sei
Eu vi
Ele foi falso consigo mesmo

Ou não.

Foi é condizente com a sua dor
Era melhor angustiar-se dentro do carro
Dirigindo
Do que sentado no aeroporto sem fazer nada


Mas o tempo foi mais esperto
E o fez esperar
Ele que nunca gostou de 22 homens preocupados apenas com uma bola
Contentou-se em ficar assistindo ao esporte
No saguão
Na TV do bar

O avião nunca descia...

Então quem passava por ali e o via
Entre tantos rostos
Nervosos
Apreensivos por causa do jogo
Diria que ele era um fanático nato por futebol
Balançando as pernas
Roendo as unhas

Deve ter sido um dos dias mais longos de sua vida
Deve ter parecido 365 em apenas 1

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